domingo, 20 de setembro de 2009

água nos olhos, parte 15

os meses de casamento se arrastavam, se enrolavam uns nos outros. não havia diferença de verões e invernos. dentro da casa, estava sempre confortavelmente aclimatado.
na primavera, as flores floresciam, e adrielly gotava de olhá-las. achava-as pequenas, frágeis, e tão bonitas. começou um curso de moda pelas manhãs.
eliane conseguiu sua aposentadoria no outono. falava mais de morte, e estava mais amarela. a felicidade do seu sonho consumido se extinguia dia a dia, sem ela perceber. a casa era grande, o seu quarto longe, e pouco via a filha. guardava o rancor de sua vida dedicada à educação, que só tinham corróido suas unhas e deixado seu cabelo cair. passava o dia tentando controlar tudo que era possível, mas sua filha lhe escapava e a babá pouco a ouvia.
isabela, a menininha, tinha uma babá. esta vestia branco e fazia de tudo. brincava, dava mamadeira e beijava. também dava banho quando ela tinha febre, tirava a temperatura, e já trazia olheiras maternais pelos choros intermináveis quando a noite reinava sob o mundo e a pequena gritava, condoída de dores que não se sabia da onde vinha.
o médico voltava na sua rotina normal de trabalho. tinha-a diminuído para poder aproveitar mais adrielly e desfrutar de tudo que ela se prupunha. agora, a comodidade alcançava os braços ousados daqueles dois, e a vida de marido e mulher se adentrava, sem que eles percebessem. agora resolvera dedicar-se ao trabalho. tivera missão cumprida, a amara, e ela não reclamaria. voltara a cultivar o jardim para que ela pudesse admirar as flores. estavam bonitas, faziam sombras no jardim acimentado.
a vida amarelava-se, na ordem das rotinas.


escureceu, a partir do dia em que se descobriu, para desespero de todos, menos do portador, a cegueira.