terça-feira, 21 de abril de 2009

água nos olhos, parte oito

quando ainda tinha dezesseis anos, poucos e sonhadores dezesseis, adrielly passava todos os dias por uma loja de vestidos de noiva. com dezesseis, a vida parecia simples. iria se apaixonar, iria se casar, com véu e grinalda e buquê e festa com vinho à vontade, iria ter filhos, iria ser feliz. porém, deram de entortar as linhas previsíveis da vida, deram de desfazer o destino sonhado, deram de trazer-lhe o contrário doloroso. quando descobrira a gravidez indesejada, pertubada e triste, branca como uma vela, cheia de fogo e dor, foi chorar em frente à loja. olhava os vestidos, os olhos aguados, olhava o branco, a renda, florezinhas, felicidade prometida, falecida. nunca contou à ninguém. enfiou-se em uma carapaça cheia de modernidades, e passou a dizer para os outros que casamento era careta, ela era livre, sempre livre. agora, sentada na cama, sentia vontade de chorar. não mais frustração, mas um vislumbre de um sonho há muito esquecido.
- amor, quero me casar de branco, quero um buquê de rosas vermelhas.
ele sorriu e continuou a ver a televisão.
- amor, vai ser uma grande festa?
- eu pensei numa coisa pequena, só nós, sua mãe, a isinha, o padre.
- por que não seus amigos médicos, seus parentes, bastante gente, uma festona? eu sei que é caro, mas...
- não é caro, florzinha, mas eu não gosto dessa gente, eu gosto de você, só. o que é que você tem, por que esses olhos inundados?
ela beijou sua bochecha.
- é que eu sempre quis me casar.
- eu sei, florzinha. eu convido minha irmã, é minha única parente viva, só.
viu que ela continuava amuada, minguada, pequena naquela cama grande. seria seu segundo casamento, todos aqueles ditos amigos sabiam da catástrofe que fora seu primeiro, não precisava de motivo para que eles fofocassem sobre sua vida íntima.
- você compra o vestido que quiser, vai ser a noiva mais linda do mundo.
- e minhas amigas, não?
- sim, meu amor, agora vem aqui, fica calma, deita aqui, deixa eu te sentir.
adrielly se acomodou em seus braços, sorriu, serena. imaginou a felicidade da mãe, os olhinhos contentes, sinceramente contentes, desde o dia que isabela nascera. adomerceu nos braços do seu homem.