domingo, 9 de agosto de 2009

água nos olhos, parte doze

o casamento se fez.
adrielly resolvera prender os cabelos, e seu futuro marido, parado ao pé do altar, achou-a mais bonita assim. tinha um coque no alto da cabeça, e uns fios soltos que lhe davam um ar de menina. as flores que tinham resistido ao atentado que sofrera foram pregadas levemente, pelas mãos talentosas da sua mãe. a menina ainda não sabia como se sentia. era assim, como se tivesse sido invadida. toda aquela explosão de felicidade que antes sentia, foi substituída por uma comodidade complacente, mas nem por isso, menos alegre. talvez sua mãe estivera certa em provomer seu casamento naquela noite e lhe dar um pouco do gosto que ela tanto esperara. queria apagar as lembranças passsadas, de todo jeito, e das que seu marido levaria. queria sumir com o pai da sua filha, um fantasma encardido que se arrastava pelos cantos escuros do seu corpo.
o médico sentia-se confuso, mas não menos que antes, pois tinha certeza que amava a pequena. isso porque sabia-se que o amor era feito de sacrifícios, era feito de promessas, era um tal de fechar os olhos e acreditar só no que a boca da sua amada lhe dizia. e era isso. era isso, a amava, e iria se casar, não importasse tudo isso. queria a proteger, guardar dentro da sua casa, seu coração, para que nunca mais aquele homem toque na sua menina. ele nunca mais a veria. nunca mais.
algumas pessoas desertaram da igreja, estava mais vazia que antes, mas isto serveria. adrielly entrou, radiante como quisera, com o sorriso maior do mundo. ninguém diria que momentos atrás, estivera em desespero silencioso, em crise interna, tendo suas feridas quase cicatrizadas, abertas, sangradas, escancaradas. parecia que aquilo lhe servia como curativo. ao menos, um temporário.
e os instrumentos fizeram-se músicas, os tons se trombaram, a melodia trouxe de volta a paz e a promessa do amor eterno. e as palavras do padre, cansado e um pouco incomodado, numa missa rápida, com a benção de Deus. os olhos de eliane, chorosos, o sorriso constante, a filha ali, o véu sendo levantado, o beijo ingênuo, a mão do padre os abençoando, ai meu Senhor, meu sonho se cumprindo, aqui na minha frente, ai meu Senhor, obrigada por este momento.
no final da cerimônia, agora marido e mulher, ele lhe beijou a testa e disse que pedira que tocassem uma música para ela. era bonita, e ele cantou, no seu ouvido, para dentro de sua alma-menina... "vem ver que ainda vale o sorriso que eu tenho para lhe dar....".
a festa foi pequena, vinho do porto e massa recheada, adrielly descobrira-se cansada demais para aproveitar. sempre pensara que ia ser uma noiva dançante, animada e sorridente. só queria ir se deitar, e confessou isto ao médico, seu marido.
recolheram-se, despediram-se, receberam todos os votos de felicidade.
fizeram amor com carinho e cuidado, entre as flores naturais que se desprendiam do cabelo de adrielly. dormiram abraçados, nus, feitos como vieram ao mundo, até não poderem mais; para poder sonhar com a noite serena e doce que perduraria para sempre nas suas vidas conjugadas.

p.s.: não, eu não desisti e acabei com a história. não pensem que mudei meu estilo trágico. uma história minha não terminaria com uma noite feliz de casamento HA-HA-HA.
p.s. 2: a música é morena dos olhos d'água do chico - ora eu tinha que enfiar em algum canto esta música, perdoem a incoerência que isto pode levar.

2 comentários:

  1. A sua história está mto legal.
    Confesso que também gosto de fins trágicos. To ansiosa p/ saber como acaba.
    Beijoo

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