domingo, 10 de maio de 2009

água nos olhos, parte nove

então, quase chegava o dia esperado. adrielly riscava todos os dias do calendário pendurado em cima da sua cama, que em tempos de ir viver na casa do seu futuro marido, sentia profunda repugnância. já tinham acertado com o dono da casa, para que suspendesse o contrato de aluguel. era só ansiedade e ligava todos os dias para suas amigas, para inundar-lhes com a sua alegria e ajustar com elas para que tudo saísse conforme queria. gostava de assim, sentir seus uivos de alegria pela amiga, e pontadas de inveja muda. desde que ficara grávida, sentia-se arrasada e de má sorte, e sempre que ficava sozinha, comparava a sua vida à das amigas, caindo em desespero. uma delas fazia faculdade, a outra trabalhava e tinha um bom marido, porém desempregado, a outra era sustentada pelo pai e nada mais fazia que curtir a vida. por um tempo, se afastara delas, abandonada pela lástima, e sem querer que ouvissem seus acasos invertidos. não precisava delas para enxugar suas lágrimas. depois que isabela desmamou, começou a sair com elas, e mesmo desgostosa, esquecia-se das suas infelicidades, dos choros constantes da filha, das lembranças aterradoras, todos os finais-de-semana. porém, antes de a sorte apresentar sua tez sorridente, lhe doía essa vida sem destino, que se definia pelos berros da filha, pelo sorriso amerelado e cínico da mãe e de parceiros que nunca ligavam no dia seguinte. agora, sentia-se no topo, e não mais recebia consolos de suas amigas, mas sim espantos da guinada que sua vida dera.
mas quem mais tinha essa felicidade repleta era eliane. fazia chás para seu futuro e oficial - pela primeira vez - genro, com medo que ele escapasse antes do casamento se realizar. aceitara, pela filha, comprar umas roupas novas, pois só tinha cores cruas e desgatadas no armário. fizera as unhas, e até tornara-se menos rígida com seus alunos. cuidava de tudo que era pertinente ao casamento, principalmente quanto à igreja, e deixando claro ao padre que sua filha era virgem perante aos olhos de Deus. e agora, tinha os olhos cheios d'água ao ver a filha pela primeira vez vestida de noiva. todo rendado, com mangas três quartos, cobria os pés, o véu de tecido transparante, a pele morena contrastante com o branco virginal, flores costuradas com strass cristalizados. as amigas mexiam aqui e ali, reclamavam a altura do véu, invetavam penteados. as adrielly não podia tirar os olhos da sua própria imagem refletida no espelho, como não podia arrancar o sorriso permanente que se instalara nas suas feições suaves.
a costureira fazia as última marcações com os alfinetes, uma senhora gorducha e de roupas gastas, um pouco mal-humorada. a sua filha acompanhava, que era boa penteadeira, e elogiava-a a todo momento, como era magra e bonita, como era jovem e delicada. queria pôr umas flores brancas naturais nos seus cabelos, e ela concordava dizendo que seu amado a chamava de florzinha, e seria tão tudo bonito. isabela quieta, olhava a mãe, assustada, e brincava com pedaços de tecidos brancos, sem nem perceber.

quem menos se preocupava com tudo isso era o médico, que apenas sorria em ver a sua pequena cada vez mais feliz. apenas quis arranjar uma boa babá que lá morasse, pois não queria se preocupar em cuidar de crianças todo o tempo. comprou passagens para a lua-de-mel, para um lugar perto, pois não podia tirar licença grande. dias antes, enfiou-se eum uma sombra de dúvidas se estaria preparado para receber toda a corja, e mudar abruptamente o seu modo de vida. pudera ser tudo mais simples, e que tivesse a pequena nas horas ardentes na cama, ou nos carinhos sossegados e matinais.

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